PÉ DIABÉTICO: tratamento preventivo reduz risco de amputação

Saiba mais sobre os cuidados com o pé diabético e como é possível ter uma vida mais saudável com o tratamento adequado.

PÉ DIABÉTICO: POR QUE SE PREOCUPAR

O pé diabético é uma complicação causada pela diabetes e, ainda que não tenha cura, existem tratamentos que promovem o bem-estar daquelas que já foram acometidas por essa condição, que pode atingir pessoas com a Diabetes Mellitus (DM).

A Diabetes Mellitus tipo 1, ou DM1, acomete principalmente crianças e jovens. Apesar de ser conhecida como diabetes infanto-juvenil, adultos também podem desenvolvê-la. Neste tipo, o pâncreas produz pouca ou não produz a insulina, obrigando o paciente a se tratar com aplicações do hormônio.

A Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), o tipo mais comum da doença, acomete especialmente os adultos a partir dos 40 anos. Na DM2, o pâncreas produz a insulina, mas este hormônio não pode manter os níveis normais da glicose para o organismo.

O diagnóstico tanto para a DM1 quanto para a DM2 é feito a partir de exames de sangue. Apesar de não ser uma doença de identificação complexa, após diagnosticada, a diabetes exige medidas preventivas para reduzir o elevado número de amputações destes membros.

Alguns dados relativos às consequências da falta dos cuidados corretos com o pé são bem alarmantes:

  • 15% dos diabéticos apresentam úlceras nos pés em algum momento de sua evolução;
  • 80% dos casos de amputações são precedidas por úlceras; e
  • 50% das amputações poderiam ser prevenidas.

Com toda informação e recursos que temos atualmente sobre a diabetes e o pé diabético, é inaceitável encontrarmos taxas tão altas de amputações destes membros. Por essa razão, é fundamental contar com o apoio de profissionais especializados para os cuidados preventivos e para a promoção do bem-estar da pessoa diabética.

Neste artigo, vamos abordar especificamente o que é a neuropatia diabética e os cuidados com os pés das pessoas que têm diabetes.

O QUE É NEUROPATIA DIABÉTICA?

Neuropatia é o nome dado às doenças que atingem o sistema nervoso e, em alguns casos, ela se desenvolve em virtude da diabetes, tendo em vista que essa doença reduz o oxigênio que chega aos nervos por meio dos vasos, produzindo, também, um processo inflamatório.

Dessa forma, quando ocorre a neuropatia diabética, há um conjunto de síndromes clínicas causadas pela doença e que afetam o sistema nervoso periférico sensitivo, motor e autonômico.

Este quadro é denominado polineuropatia diabética e causa aos pés:

  • formigamento doloroso;
  • queimação;
  • sensação de agulhadas;
  • perda da sensibilidade local;
  • deformidades; e
  • alterações de marcha.

Existem 4 tipos de neuropatia diabética, que são:

  1. Neuropatia periférica distal;
  2. Neuropatia sensorial (sensitivo);
  3. Neuropatia motora; e
  4. Neuropatia autonômica.

Vamos entender cada um desses tipos:

  • Neuropatia periférica distal

Acomete cerca de 50% dos pacientes diabéticos após 15 anos de diagnóstico. Frequentemente é negligenciada e raramente é diagnosticada até que o paciente se queixe de dor ou apresente uma úlcera de pé.

A detecção e a identificação precoces do processo neuropático oferecem uma oportunidade crucial para o paciente diabético, no sentido de ativamente procurar o controle glicêmico ótimo e implementar cuidados com o seu pé antes de a morbidade se tornar significativa.

Vários estudos têm demonstrado relação direta entre os níveis de hemoglobina glicosilada, bem como, a presença e a severidade da neuropatia periférica.

  • Neuropatia sensorial (sensitivo)

A diminuição da sensibilidade postural pode resultar em alterações na marcha e contribuir para a formação de calosidades. Esta deficiência ou a ausência de sensibilidade protetora plantar expõe os pés ao risco de lesões, por:

  • traumas repetitivos ocasionados pela presença de objetos estranhos dentro dos calçados ou uso de calçados inadequados;
  • queimaduras causadas por pisos aquecidos, bolsas de água quente, lareiras ou aquecedores.
  • Neuropatia motora

A neuropatia motora altera o formato do pé. As deformidades mais comuns são os dedos em garra e em martelo, pé cavo e pontos de pressão em áreas específicas, como em região dorsal e plantar dos dedos, alterando o padrão normal da marcha.

  • Neuropatia autonômica

Nos pés, resulta em pele seca, com rachaduras e fissuras, criando uma porta de entrada para bactérias.

De acordo com os estudos promovidos pelo National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, entre 60% e 70% de pessoas com diabetes podem ter algum tipo de neuropatia. Este elevado percentual reforça o quão importantes são os cuidados com os pés das pessoas diabéticas.

 

ONDE OCORREM AS LESÕES NOS PÉS DAS PESSOAS COM DIABETES

Sapatos que pressionam os pés, andar descalço e pequenos traumas podem ocasionar lesões. Os machucados podem evoluir para uma ferida de difícil cicatrização, contrair infecção e até causar a amputação do membro.

Onde ocorrem as lesões nos pés de pessoas com diabetes. Fonte: International Consensus on the Diabetic Foot, 2019.

Isso porque o pé da pessoa com diabetes tem perda de sensibilidade, redução ou imobilidade das articulações e deformidades, que causam áreas com maior atrito e pressão.

Assim, formam-se os calos, que progridem para hemorragias na região abaixo do calo; chegam ao rompimento da pele até a formação de uma ferida. Nos casos mais graves, pode gerar uma infecção no osso (osteomielite).

Para prevenir as lesões, as pessoas com diabetes devem examinar seus pés diariamente. Se não tiverem condições de fazerem sozinhas, devem pedir ajuda a alguém. O autoexame visual é um importante aliado para evitar complicações a estes membros.

Além disso, os pés diabéticos devem ser avaliados por especialistas, no mínimo, uma vez por ano. Abaixo, vamos explicar como se dá esse processo.

COMO PREVENIR AS LESÕES AOS PÉS DIABÉTICOS

É necessário realizar uma avaliação de grau de risco para o desenvolvimento de lesões nos pés. Esta avaliação é feita por meio de testes aplicados nos pés, com o objetivo de detectar se a sensibilidade protetora plantar encontra-se preservada. Como o próprio nome leva ao entendimento, a sensibilidade protetora protege os pés.

Os testes realizados são:

Tipo de alteraçãoTesteResultado esperados
Percepção de pressão
(sensibilidade protetora)
Monofilamento Semmes-Weinstein 10g- Percebe
- Não percebe
Percepção de vibração
(sensibilidade vibratória)
Diapasão médico 128 Hz- Presente
- Diminuída
- Ausente
Percepção de temperatura (sensibilidade térmica)Tubos de ensaio com água quente e fria ou cabo do diapasão (frio)- Presente
- Diminuída
- Ausente
Percepção de dorPicada com palito- Presente
- Diminuída
- Ausente
Função motoraMartelo para pesquisa dos reflexos aquileu e patelar- Presente
- Diminuída
- Ausente
Sensação tátil
(sensibilidade tátil)

Algodão no dorso no pé
- Presente
- Diminuída
- Ausente
Mobilidade articularSinal da prece- Presente
- Ausente

Testes para avaliação do grau de risco. Fonte: “A guide for health care professionals”, IDF, 2017.

Teste com Monofilamento Semmes-Weinstein (ilustração do teste/Foto: arquivo Stay Care).

De acordo com o resultado dos testes, o profissional classifica os pés em grau de risco de 0 a 3 e faz as orientações quanto à periodicidade de acompanhamento:

CategoriaRiscoCaracterísticas Frequência de vigilância
0Muito baixoSem perda da Sensibilidade Protetora (PSP) e sem Doença Arterial Periférica (DAP)Anual
1BaixoPSP ou DAP6 a 12 meses
2ModeradoPSP + DAP ou
PSP + deformidade ou
DAP + deformidade
3 a 6 meses
3AltoPSP e/ou DAP e 1 ou mais das seguintes:
história de úlcera;
história de amputação;
insuficiência renal crônica.
1 a 3 meses

 Sistema de Estratificação de Risco do IWGDF 2019 e periodicidade de vigilância.

Os 5 pilares para prevenir as úlceras nos pés de pessoas com diabetes

Com base nas diretrizes divulgadas pela International Working Group on the Diabetic Foot (IWGDF), de 2019, os pilares para a prevenção de úlcera nos pés diabéticos são:

  1. Identificação dos pés em risco;
  2. Inspeção regular dos pés em situação de risco;
  3. Educação das pessoas com diabetes, familiares e profissionais da saúde;
  4. Assegurar o uso de calçados adequados; e
  5. Tratamento dos fatores de risco de ulceração.

O conhecimento e a percepção de que algo está incomodando faz com que a pessoa evite a lesão ou a progressão dela, tomando os devidos cuidados.

Antes e depois do tratamento preventivo. Arquivo Stay Care.

Na imagem, nota-se, claramente, o antes e o depois de um pé diabético cujos cuidados preventivos foram administrados. Com o tratamento adequado, diminuímos a possibilidade do quadro infeccioso e as consequências mais severas.

ONDE REALIZAR TRATAMENTOS PARA O PÉ DIABÉTICO

Como falamos ao longo deste artigo, as medidas preventivas são o meio ideal de cuidar do conforto das pessoas que sofrem de diabetes, mesmo que já tenham sido acometidas pela polineuropatia diabética.

Os profissionais habilitados para realizar o tratamento preventivo dos pés diabéticos devem ser especialistas, portanto, com graduação em Enfermagem, pós-graduação em Enfermagem Dermatológica, Estomaterapia ou Podiatria ou capacitações em Procedimentos Podiátricos.

A especialização e a expertise desses profissionais permitirão que eles realizem:

  • inspeção dos calçados e meias;
  • exame regular dos pés diabéticos;
  • rastreamento e classificação de risco;
  • educação terapêutica para clientes, familiares e outros profissionais de saúde;
  • indicação dos calçados adequados; e
  • tratamento das lesões pré-ulcerativas (calos, fissuras, por exemplo) e das lesões existentes (bolhas, hematomas e feridas).

Profissionais com esse know-how são encontrados nas unidades da Stay Care, uma franquia de saúde focada na prevenção, na educação para o autocuidado e na melhoria da qualidade de vida das pessoas com pés diabéticos ou acometidas por outras situações médicas, como: alterações e/ou lesões nas unhas, fistulas, cateteres, drenos e incontinências urinária e anal.

Consulte a nossa rede de franqueados e agende a avaliação do pé diabético na unidade mais próxima! Lembre-se de que o tratamento precoce dos pés diabéticos pode reduzir o risco das lesões de tornarem feridas de difícil cicatrização e evoluírem para a amputação.

Suely Rodrigues Thuler
Mestre em Educação nas Profissões da Saúde pela PUC-SP
Enfermeira Estomaterapeuta TiSOBEST
Pós-graduada em Podiatria Clínica pela UNIFESP
Membro Titulado da SOBEST – Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinências

 

REFERÊNCIAS

IWGDF Guideline on the prevention of foot ulcers in persons with diabetes

International Diabetes Federation. Clinical Practice Recommendation on the Diabetic Foot: A guide for health care professionals: International Diabetes Federation, 2019. Disponível em:  <https://iwgdfguidelines.org/wp-content/uploads/2019/05/02-IWGDF-prevention-guideline-2019.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2012. 

Leheny, Shelby. Diabetic Neuropathy: Types, Causes, and Risk Factors, 2017. Disponível em: <https://www.pharmacytimes.com/contributor/shelby-leheny-pharmd-candidate-2017/2017/10/diabetic-neuropathy>. Acesso em 14 fev. 2021.

MANUAL MSD – Versão para Profissionais de Saúde – O fornecedor confiável de informações médicas desde 1899. Neuropatia periférica. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/neuropatia-perif%C3%A9rica>. Acesso em: 12 fev. 2021.

______. Polineuropatia. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/doen%C3%A7as-dos-nervos-perif%C3%A9ricos/polineuropatia>. Acesso em: 12 fev. 2021.

Nervo, Músculo e Dor. Polineuropatia: Diabetes Mellitus. Disponível em: <http://nervomusculoedor.com.br/polineuropatia-diabetes-mellitus>. Acesso em: 13 fev. 2021.

Pedrosa HC, Vilar L, Boulton AJM, 2014. Neuropatias e Pé diabético. Editora GEN, 1ª edição. São Paulo, 2014.