Lesões na pele podem ser sintoma da COVID-19

Conheça 6 manifestações na pele já relacionadas à doença e veja 7 dicas para prevenir e cuidar de lesões por pressão decorrentes da internação por COVID-19.

COVID-19: É VERDADE QUE O NOVO CORONAVÍRUS PODE CAUSAR ALTERAÇÕES NA PELE?

As alterações na pele são mais um dos efeitos causados pela COVID-19. Relatadas como sintomas ou sequelas do novo coronavírus, essas manifestações dermatológicas são numerosas e podem variar muito de pessoa para pessoa. 

Neste artigo, vamos entender como são causadas essas alterações na pele relacionadas à COVID-19 e como as feridas devem ser tratadas:

Um pouco da história da COVID-19

Alterações na pele podem indicar COVID-19

Lesões na pele relacionadas à COVID-19

Por que pacientes com COVID-19 desenvolvem feridas durante a internação?

Superando o novo coronavírus e lesões por pressão: o que fazer

Acompanhe os detalhes a seguir.

UM POUCO DA HISTÓRIA DA COVID-19

A COVID-19 é caracterizada por uma síndrome respiratória grave causada pelo coronavírus (SARS-Cov-2), ou seja, é uma infecção do trato respiratório. Essa doença se espalhou pelo mundo rapidamente, desde seu aparecimento na China, ao final do ano de 2019. 

Sua transmissão, muitas vezes assintomática, sua alta taxa de infecção e de mortalidade levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declará-la como uma pandemia em março de 2020. No início de agosto de 2020, mais de 20 milhões de casos de COVID-19 foram confirmados globalmente, com mais de 750.000 mortes relatadas em mais de 200 países e territórios. 

A partir destes dados, é possível perceber que a COVID-19 tem uma alta taxa de infectividade, principalmente devido a propagação através de gotículas respiratórias. São comuns sinais clínicos iniciais como: febre, tosse, fadiga, falta de ar, dor de garganta e dor de cabeça. Porém, novos sintomas vêm sendo identificados pelo mundo, como, por exemplo, uma variedade de manifestações cutâneas.

ALTERAÇÕES NA PELE PODEM INDICAR COVID-19

As manifestações cutâneas têm sido cada vez mais relatadas em associação com a doença pandêmica causada pela COVID-19. Estas manifestações dermatológicas aparecem em pacientes de todas as idades e com diferentes níveis de gravidade da doença. 

A importância destas alterações ainda permanece relativamente desconhecida, porém, o aumento na conscientização e a sua identificação precoce podem ser vitais para um diagnóstico também precoce e mais preciso resultando, possivelmente, em melhor prognóstico em pacientes com COVID-19.

Em estudo conduzido por pesquisadores do King’s College London (Reino Unido), com dados coletados a partir de uma pesquisa on-line independente, com 11.544 participantes, descobriu-se que:

  • 17% das pessoas com SARS-Cov-2 positivo relataram erupções cutâneas como a primeira apresentação da doença; e 
  • 21% das pessoas relataram as manifestações cutâneas como o único sinal clínico de COVID‐19.

Ainda que as lesões cutâneas estejam sendo relatadas como mais um dos sintomas da COVID-19, se aparecerem isoladas não caracterizam, necessariamente, a doença.

Mas, vale destacar que prestar atenção às alterações físicas do nosso corpo é sempre um importante aliado para diagnósticos precoces de muitas doenças e, no caso do novo coronavírus, não é diferente. 

LESÕES NA PELE RELACIONADAS À COVID-19

Os estudos nos trazem seis padrões de lesões dermatológicos centrais relacionados à COVID-19:

Lesões maculopapulares

Lesões urticariformes

Dedos de COVID (lesões semelhantes a frieiras)

Lesões vesiculares

Petéquias/Púrpuras

Erupções cutâneas livedoides

Vamos conhecer cada uma delas.

Lesões maculopapulares

Estão entre as lesões mais prevalentes observadas durante a pandemia de COVID-19. Podem estar relacionadas a reações adversas a medicamentos ou infecções virais. Em crianças é muito comum estar relacionada à infecção.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Lesões urticariformes

Essas lesões geralmente se apresentam como urticária ou angioedema e podem ser caracterizadas como uma erupção papular eritematosa levemente elevada seguida por intensas sensações pruriginosas, a popular “coceira”.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Dedos de COVID (lesões semelhantes a frieiras)

Popularmente chamadas de “dedos de COVID” (COVID toes), também são conhecidas como pérnio. Essas lesões se caracterizam por uma resposta inflamatória na pele podendo ser induzidas por temperaturas frias e ambientes úmidos, resultando em inchaço e descoloração das extremidades. Lesões semelhantes apareceram em pacientes com COVID-19 e duraram cerca de 1-2 semanas em média.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Lesões vesiculares

Caracterizadas por lesões que são bolsas cheias de líquido claro sob a camada epidérmica. Comumente referidas como bolhas, tendem a ter menos de 1cm de diâmetro e frequentemente aparecem agrupadas. Possuem várias causas, como calor, dermatite de contato, assim como, agentes infecciosos. No caso da COVID-19, são menos comuns que as lesões anteriores e geralmente aparecem em pessoas de meia-idade (entre os 40 e os 60 anos), sendo o tronco do corpo a região mais acometida.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Petéquias ou púrpuras

Petéquias são normalmente descritas como pequenas manchas não branqueáveis, ou seja, não desaparecem após uma breve pressão, com menos de 2mm de diâmetro. Se forem maiores que 2mm de diâmetro são denominadas púrpuras. São hemorragias subdérmicas, com muitas causas, como trombocitopenia, disfunção plaquetária, distúrbios de coagulação e podem estar associadas à infecções virais. No caso da COVID-19, também não são lesões frequentes, apresentando aspecto difuso em extremidades ou nos membros.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Erupções cutâneas livedoides

Livedo é uma manifestação cutânea transitória ou persistente que se apresenta semelhante a uma rede, a uma renda, com um padrão de manchas nas cores azul-avermelhadas a roxas. É consequência de uma alteração vascular cutânea alterada, com fluxo sanguíneo e oxigenação diminuídos. Mais raras na COVID-19, porém quando identificadas, são comuns nas regiões do tronco, antebraços, mãos e pés. São mais frequentes em pacientes com infecções graves.

Fonte: Singh H, et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77

Lembramos que apenas o diagnóstico médico adequado confirmará se as manifestações na pele são causadas pelo novo coronavírus.

POR QUE PACIENTES COM COVID-19 DESENVOLVEM FERIDAS DURANTE A INTERNAÇÃO?

Pacientes que necessitam do uso de equipamentos para ajudar a respirar e precisam ficar sedados, por exemplo, não conseguem se movimentar na cama do hospital. Estes pacientes têm mais chances de apresentar feridas, pois além de não conseguirem se mexer sozinhos, não possuem a percepção para sentirem desconforto. 

Em um contexto diferente do atualmente vivido com esta crise sanitária, os profissionais de saúde realizam a movimentação do paciente, bem como, outras medidas para a prevenção de feridas. Porém, muitas vezes, o paciente com COVID-19 precisa permanecer na mesma posição por horas seguidas, pois se os profissionais tentarem virá-lo ou mexê-lo, a pessoa doente pode apresentar piora do quadro clínico e aumentar o risco de morte. 

Esses longos períodos deitados na mesma posição diminuem a circulação e oxigenação da pele e, associado a outros fatores, podem levar ao surgimento das feridas chamadas de lesões por pressão (LP)

As LPs são evitáveis, mas no atual cenário da COVID-19, têm trazido inúmeros desafios para os hospitais, profissionais de saúde, paciente e família, devido aos fatores associados à gravidade do próprio paciente. 

Pacientes internados em UTIs por conta do novo coronavírus apresentam um risco mais elevado para o surgimento das lesões por pressão. 

As feridas (LPs) aumentam o tempo de internação, os custos hospitalares, as complicações e sequelas ocasionadas pelo seu aparecimento. Muitos pacientes que recebem alta hospitalar após o tratamento da COVID-19 estão retornando para casa com lesões por pressão graves, necessitando de tratamento e acompanhamento prolongados para a cicatrização.

SUPERANDO O NOVO CORONAVÍRUS E LESÕES POR PRESSÃO: O QUE FAZER

O Brasil tem apresentado dados preocupantes e crescentes sobre a infecção e óbitos pela COVID-19. Muitos são os acometimentos causados pela doença: alterações respiratórias, cardiovasculares, renais, neurológicas e as alterações de pele, sobre as quais falamos. Por isso, se você ou alguém que você ama venceu a COVID-19, desejamos uma vida longa e saudável!

Dessa forma, os cuidados com as feridas que surgem no período de internação são extremamente importantes para a recuperação completa do paciente.

É importante, inicialmente, que o enfermeiro especialista em feridas (Enfermeiro Estomaterapeuta ou Enfermeiro especialista em Dermatologia) realize a avaliação do paciente e da ferida para indicar as medidas necessárias de cuidado, sejam elas preventivas ou de tratamento. 

Alguns cuidados são fundamentais para a cura dessas feridas e prevenção do surgimento de novas lesões, como:

  1. Utilizar colchões que redistribuem a pressão do corpo na cama, caso o paciente deva permanecer acamado, como colchões pneumáticos;
  2. Utilizar dispositivos auxiliares para posicionamento, como coxins e travesseiros, que auxiliarão no alívio da pressão;
  3. Proteger áreas de maior risco para o desenvolvimento das feridas, com curativos indicados pelo Enfermeiro especialista;
  4. Olhar diariamente a pele dos pacientes acamados é de extrema importância para a identificação precoce de qualquer alteração cutânea;
  5. Manter a pele sempre limpa e seca. Longos períodos com suor ou com a fralda molhada, por exemplo, aumentam o risco do surgimento dessas feridas;
  6. Utilizar produtos de limpeza com pH levemente ácido. Entretanto, a avaliação do especialista é fundamental;
  7. Realizar mudanças de posicionamento do paciente acamado a cada 2 ou 4 horas.

Além disso, nutrição adequada, controle da glicemia, estímulo à ingestão de água, reabilitação motora e tratamento específico das feridas com curativos indicados pelo especialista são fundamentais para o processo de cura e reabilitação do paciente. 

Tem mais dúvidas?

Entre em contato conosco que podemos te auxiliar. A Stay Care possui unidades distribuídas em diversos locais do país. Dentre nossas especialidades estão a prevenção, avaliação e o tratamento de feridas agudas e crônicas, como as lesões por pressão.

Além dos cuidados básicos com curativos e orientações aos pacientes e cuidadores, oferecemos terapias complementares, como: fotobiomodulação e fotodinâmica (laser) e ozonioterapia. Sempre com as medidas de biossegurança seguidas rigorosamente.

Mas, o mais importante é continuarmos nos protegendo. Se cuidem!!!

REFERÊNCIAS

BLACK J.; CUDDIGAN J.; CAPASSO V.; COX J.; DELMORE B.; MUNOZ N., et al. On behalf of the National Pressure Injury Advisory Panel (2020). Unavoidable Pressure Injury during COVID-19 Crisis: A Position Paper from the National Pressure Injury Advisory Panel.

CASAS, C. G., et al. Classification of the cutaneous manifestations of COVID‐19: a rapid prospective nationwide consensus study in Spain with 375 cases. British Journal of Dermatology, 2020; 183: 71–77.

RAMALHO, A. O.; FREITAS, P. S. S.; MORAES, J. T., NOGUEIRA, P.C. Reflexões sobre as recomendações para prevenção de lesões por pressão durante a pandemia de COVID-19. ESTIMA, Braz. J. Enterostomal Ther., 2020; 18 (e2520).

RAMALHO, A. O.; ROSA T. S.; SANTOS; V. L. C. G.; NOGUEIRA, P. C. Acute Skin Failure e Lesão por Pressão em paciente com Covid-19. ESTIMA, Braz. J. Enterostomal Ther., 2021; 19 (e0521).

SINGH, H., et al. Cutaneous Manifestations of COVID-19: A Systematic Review. ADVANCES IN WOUND CARE, 2021; 10(2): 51-77.

SOUSA, D. A.; ANTELO, D. A. P. Manifestações cutâneas da COVID-19: Uma série de casos do Brasil.  Revista SPDV, 2020; 78(4): 329-34.

VISCONTI, A.; BATAILLE, V.; ROSSI, N., et al. (2021), Diagnostic value of cutaneous manifestation of SARS‐CoV‐2 infection. Br J Dermatol. Disponível em: https://doi.org/10.1111/bjd.19807